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Como lidar com a DOR

Nossa vida é um permanente nascer. A cada instante, estamos nascendo de nós mesmos. Se viver é um eterno nascimento, o yoguin é aquele que o faz com o mínimo de dor. Yoga é, portanto, um autoparto sem dor, em escala existencial.

O yoguin aprende a defende-se da dor, não por negar existência, nem por fugir dela, mas por saber aceitá-la como resultado de autoresponsabilidade e propósito, de forma alguma, temê-la. Aprende a vencê-la, com inteligência e técnica.

O Yoga não é um processo de escape. O gozo material e vulgar não pode ser antídoto para a dor existencial. Esta só é vencida com a realização do que é essencial, isto é, do Espírito. E isto requer tempo, persistência, fé, prática, transformações no físico, no psíquico, no social, no filosófico, no regime alimentar bem como no comportamento moral e nas relações humanas; no quotidiano, na vida inteira.

A filosofia yogui mostra-se realista, ao lidar com os lados negativos e positivos das situações, quando mostra ser este mundo maiávico (ilusório) é feito de experiência dolorosa, concluindo que viver é conviver com a dor. A mesma filosofia que fala sobre lidar com a dor, ensina um remédio para a dor da existência. Há não só uma salvação, mas também uma explicação para a dor. Tanto há um modo de amenizar, como de evitar o sofrimento.

A filosofia do Yoga fala sobre Realidade! Afirma que tudo se opõe e se complementa, pois é do negativo e do positivo que a vida é feita: luz e sombra; alegria e tristeza; riqueza e pobreza; fome e saciedade; altos e baixos; dias de sol e dias de chuva; rigor de inverno e de verão; umidade e secura; trigais e espinheiros; desertos e florestas; guerra e paz; harmonia e discórdia; berço e esquife; cair e levantar-se, crime e amor. "Um não existe sem o outro. Nos extremos de um outro nasce. Sucedem-se e coexistem. Estão aqui e além. Fora e dentro. Foram. São. Serão."

O yoguin é permanentemente sereno e justo, tudo é necessário e nada indispensável. Sabe conquistar o positivo, mas não se perturba se o perde. Sabe evitar o negativo, mas não se apavora quando por ele apanhado. Sabe gozar o dia quente e aproveitar a noite de chuva.

O yoguin vê na dor não ameaça ou desgraça, mas um desafio ao próprio crescimento: à evolução.. . A angústia — este privilégio do bicho-homem — não é infelicidade em si, senão na medida em que o angustiado, por ignorância e autopiedade, enfrenta-a em mísero estado de medo e infelicidade.

Para o yoguin, angústia é saudade da Perfeição, da Plenitude, do Amor Universal Onipresente, de Sat Chit Ananda (Ser Supremo, Consciência e Bem-aventurança Absoluta). Sentir angústia é ouvir a Voz chamar, num gesto paternal que convida ao regresso ao Divino Lar. Sem o desafio e a convocação, representados pela angústia, o jiva (alma individual em evolução) se perderá, totalmente alienado, nesta existência maiávica (ilusória), onde os prazeres são muitos, mas decepcionantes.

A vitória sobre a angústia, em última e definitiva instância, consiste em a alma individual em evolução (jiva) integrar-se na Alma Universal (Paramatman). A dor, em todas suas nuances e níveis, é filha do pecado e neta da ignorância. Uma criança pode, por ignorância, beber água poluída, e isto seria seu pecado (erro) e, conseqüentemente, cair presa dos sofrimentos de uma infecção, podendo até morrer.

A filosofia yogui diz igualmente que, por ignorância (avidya), o homem comum bebe a água poluída do pecado, causando a si mesmo os piores danos, seus próprios sofrimentos. Esta é a chamada lei do karma, isto é, a lei da causalidade, segundo a qual cada um é responsável por seus atos, trazendo para si mesmo o bem ou o mal, a bem-aventurança ou a desgraça, como conseqüência dos atos que praticar.

O homem peca porque é ignorante. Ele ignora a Realidade de Deus. Ignora que ele e o Pai são um só. Ignora que ele e o próximo (e até mesmo seu inimigo) também são um só. Ignora a lei do karma e que ele, conseqüentemente, é o artífice de seu próprio destino. Por outro lado, vive sob a convicção de ser um degradado, um cão sem dono, uma presa de satã ou das enfermidades, mas achando ter o direito de vir a ser feliz, de qualquer modo, até mesmo à custa do sofrimento dos "outros". Por ignorância, crê num Deus antropomórfico a quem recorre somente nas horas de necessidade.

Por ignorância já não acredita num Deus que não tem atendido a suas orações egoístas. Sendo ignorante, tem a ilusão de impunemente poder fazer todas as formas de maldades, desde que "ninguém sabe que fui eu o autor". Por ignorância, tem cometido, vem cometendo e cometerá toda sorte de violências contra a infalível lei do karma e, portanto, contra si mesmo, embora enganosamente queira ferir os outros. Por ignorância, cria para si mesmo as algemas de seus distúrbios neuróticos e os desesperos de sua alienação.

A filosofia do yoguin desenvolve no jiva a inteligência (viveka), que o faz "rei da criação", que lhe faculta optar por ser bom ou ser mau, pelo viver enfermo ou sadio, pelo efêmero ou pelo Eterno, dedicar-se às coisas finitas ou ao Infinito... Dá-lhe sabedoria (vidya), com a qual, pode, algum dia, deslumbrar-se na contemplação do Absoluto e então compreender, em toda plenitude, a promessa: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". A isto é que poderíamos chamar vidyaterapia ou a cura pela sabedoria.

No ocidente, logoterapia. Estudando, meditando sobre e vivenciando no quotidiano e em toda a vida a libertadora Yoga Brahtna Vidya (Ciência Sintética do Absoluto), cada um de nós vai podendo evitar erros e conseqüentes sofrimentos. Ao mesmo tempo, sabedor das conseqüências kármicas de seus pensamentos, desejos e ações, o yoguin trata de semear na mente, no corpo e para o futuro, as sementes próprias à colheita de paz, alegria, serenidade, saúde, vitória, resistência... Conhecendo os princípios universais que explicam e regem o particular, o yoguin, conseqüentemente, com naturalidade e sem sacrifícios, alimenta atitudes internas e sutis (bhavas) condizentes e germinadoras de desejos (icchas) sublimes, que constituem as motivações mais profundas de seu agir no mundo.

Daí deste conhecimento e vivência metafísica, só pode portanto resultar a moral mais divinizante, e mais libertadora, exatamente por ser natural. O principal bhâvana (verdade metafísica do Yoga) diz ao homem que, em vez de ele ser um degredado ou degradado, um "verme rastejante no lodaçal do pecado", é, essencialmente, partícula do Uno Sem Segundo, do Absoluto, do Infinito e da Eternidade.

O yoguin diz para si mesmo ham sa (Eu sou Ele, o (Absoluto) e a seu próximo, tat twam asi (tu és Aquilo, o Absoluto). A metafísica yogui desinteressa-se pela consideração do pecado. Não incute no homem que é pecador. Não se ocupa em falar sobre o mal. Ensina o caminho do bem. Não fala de castigos ao malvado. Anuncia promessas de libertação àquele que sofre.


Professor Hermógenes

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